Somos uma sociedade tão elevada!Vem isto a propósito de Sá Carneiro e da sua ligação a Snu Abcassis. Pois cá da memória, ainda vou lembrando assim assim. A principio a sociedade portuguesa fazia Oós discretos com as bocas espantadas. O chefe do primeiro partido do país, o sobrolho carregado da Igreja, as manifestações de respeito pela família desgraçadamente separada, por uma relação fora da bênção.É verdade que o PC, nunca fez um comentário, é verdade que o PS qual abutre sem vergonha, logo que pôde, abocanhou. Mas não foi só o PS. Foi a sociedade de uma forma geral, que comentava à boca pequena e olhava de soslaio, era a Igreja que pesarosa protegia a família, eram os bons costumes, eram as famílias nobres do Porto, porque afinal nós somos um povo de respeito.É claro que houve bocas a favor. A Natália Correia, por exemplo! Mas essa era uma intelectual excêntrica, que até fazia poemas às putas lá da rua dela.A Sociedade explicita e implicitamente condenou, sim senhor! Então não se lembram do funeral em cinema scope do Sá Carneiro, com 10 horas ou mais de transmissão televisiva?O esquife do falecido estava na nave central dos Jerónimos, rodeado de todas as plantas da Estufa Fria, com toda a nação em homenagem sentida. Numa capela anónima, o caixão da Snu, praticamente sozinho. A Nação é piedosa mas não pode ignorar o pecado.A televisão explorou bem o contraste. De um lado a majestosa cerimónia da Pátria que se curva à memória de um dos seus maiores. Do outro lado, e porque na vida dos grandes homens também pode haver abismos, a frieza da sala nua com o caixão triste, envergonhado e só, condenado ao isolamento eterno. Agora que o tempo passou, todos se apressam a tirar o cavalinho da chuva. Todos temos uma grande admiração por aquele amor!Os artigos das revistas, as reportagens das televisões, trazem agora a imagem de Snu, mulher superior. Distintíssima, inteligente e culta, sempre ao lado do seu homem. Um primeiro ministro sempre superior a assumir aquela relação em todas as circunstâncias. E hoje todos os portugueses estão orgulhosos de tanta nobreza. Que homem! Que mulher! Que relação exemplar!Que cínicos da porra!
Texto maravilhoso do blogue Altoseixo
9 comentários:
Ainda há pedros e inês na segunda metade do século XX.
Que honra assistir a uma tão bela história de amor... : )
É mesmo amiga.
Eles são para mim mesmo o Pedro e a Inês do séc. XX.
Um beijão
Maria
Belíssimo texto, digna homenagem. E justíssima, acrescento.
Recordo-me muito bem dessa transmissão, recordo-me muito bem desta descriminação e dos comentários à boca pequena. Snu era a desgraçadamente a outra, como a Manuela Eanes o fez sublinhar em algumas circunstâncias do protocolo de Estado. Se A Snu e o companheiro não tivessem morrido naquele fatídico dia algo me diz que não teríamos de esperar mais de vinte anos para falarmos abertamento de uniões de facto e de todas os outros desvios às convenções sócio-religiosas impostas a este país, desgraçadamente amordaçado pela cruz e por séculos de analfabetismo.
Era mais importante dizer que a Snu era a outra do que realçar o facto de ser inteligente, cultíssima, empreendedora e empresária. Fundou a D. Quixote, por exemplo, e AMOU Portugal, mesmo sabendo que no fim nem as plantas da estufa fria receberia como coroa de flores.
Um abraço!
Comovente, incisivo e justo comentário.
Obrigada
Um abraço!!!
Lacrimosa do Requiem de Mozart!!!
Escoitar esta musica cos ollos pechados e co volumen da musica alto , da arrepios!
Moi boa eleccion.
por certo a reunion en Muros é en Xullo de 2009
Foi de uma hipocrisia chocante! E lembrar-me eu que o Papa recusou recebê-lo... mas recebeu P.C. e a alternadeira!...
Até o bispo de Braga teceu comentários idiotas sobre o tema...
Cambada de hipócritas, meu Deus!!!
Homes de pedra e Rouxinol..obrigada pela visita e comentários
A lacrimosa de Mozart é um estado de espírito..é assim como me sinto em relação a Snu e a Sá Carneiro
Texto fantástico.
E dois anos depois, este belo texto vai-se tornando mais real, e essa bela história de facto ganha cada vez mais contornos de conto de fadas da realeza... Somos um país tão belo que carrega uma verdade tão triste! Mas devo dizer que me diverte saber que algumas das figuras de proa, tão poderosas e superiores na época, são basicamente esquecidas em detrimento daquela que era a "outra", ora toma lá senhora dona primeira dama!
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