segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Uma estória entre muitas da formação da "minha "Costa Nova


...."A Costa Nova é um localidade balnear e piscatória, voltada para o turismo, cheia de contrastes sociais e culturais, mas rica em história e em vida. Toda a gente conhece as suas habitações típicas: os palheiros, mas poucos sabem que a Costa Nova não é apenas palheiros ou a memória destes no passado.


Ao lado da Praia da Barra, e anterior à formação desta, está, para sul, a povoação da Costa Nova do Prado, ou, mais curto ao gosto da lei da simplificação linguística, Costa Nova. Esta povoação foi fundada nos princípios do século passado por gentes de Ílhavo, que lhe teria dado o nome de Costa Nova para a distinguir da antiga costa de S. Jacinto, habitada muito antes dela. É só a partir de 1822 que há a notícia de começar a ser utilizada como praia de banhos, sendo já bastante frequentada em 1840. Ao princípio o limite norte da estância ficava no chamado Palheiro de José Estêvão (ainda existente e que vale a pena visitar). Também é a partir de 1822 que a Costa Nova tem uma capela em honra ao seu orago e protector: Nossa Senhora da Saúde.

A povoação recentemente tem-se modernizado e urbanizado, sofrendo grandemente os ataques do investimento e da especulação imobiliários, e o aumento de pequenos negócios voltados para o turismo. Os palheiros, pintados de vermelhão ou outras cores, que ainda há bem poucas dezenas de anos se alinhavam à beira da ria, têm sido substituídos por casas de alvenaria e por complexos de apartamentos turísticos. Já possuiu teatro, assembleia e cinema. Hoje possui uma rede de ruas bem esquadrinhada e está vocacionada para a época balnear (Junho a Setembro). No último domingo de Setembro faz-se uma festa em honra da Senhora da Saúde que atrai grande número de gente.


Antes de existir a ponte da Barra, a ligação da Costa Nova à edilidade ilhavense e à Gafanha da Encarnação, bem como a deslocação das pessoas costanovenses para os seus empregos do lado de cá da ria de Aveiro era feita através de uma carreira de barca, entre o cais da Costa Nova e o da Mota da Gafanha da Encarnação. Hoje vêem-se marcas dessa carreira e pode-se ainda experimentar turisticamente a viagem que outrora se fazia.

Antigamente a Costa Nova não era propriamente uma povoação, mas um agregado de palheiros habitados durante o estio e o outono por uma parte da população de Ílhavo e de outras terras próximas, composta principalmente dos pescadores de Ílhavo, cujas companhas ali trabalham naquela metade do ano somente, porque a costa não é praticável no inverno; e também de mercantéis (compradores de pescado para revender) - das famílias que ali vão fazer uso de banhos de mar -, e dos que durante aquele período ali se estabelecem com fornos de cozer pão, tabernas, mercearias, botequins e hospedarias.

Palheiros são o nome aos armazéns e casas construídas tanto nesta como nas demais costas deste litoral, em razão, talvez, de terem sido de palha, juncos ou tábua as que em tempos remotos nelas construíram. Os palheiros da Costa Nova são casas de madeira e telhados, não podendo ser de pedra e cal, por serem construídas sobre areias movediças e por elas alagadas em mais ou menos tempo, carecendo de ser levantadas e mudadas de anos a anos (claro está, antigamente).

A Costa Nova do Prado tem o seu nome assim porque: é uma "costa nova" em alternativa à "costa velha" de S. Jacinto, onde os pescadores durante tanto tempo trabalharam e que depois se transferiram para aqui devido à distância, ao tempo, à costa, e à barra que entretanto foi construída e aberta; é "prado"
porque ficava defronte da Gafanha da Encarnação e esta era verdejante e bonita, e havia também quem chamasse à Gafanha da Encarnação de Gafanha do Prado.


Algumas das famílias de Aveiro, Ílhavo e Vagos começaram a ir fazer uso de banhos de mar à Costa Nova do Prado. Isto passava-se pelos anos de 1822 a 1824, sendo por esse tempo que se começou a fazer um ou outro palheiro por conta de alguns particulares com exclusivo destino para habitação no tempo dos banhos e a efectuar nos armazéns existentes alguns melhoramentos e divisões para os alugarem a quem os não tinha seus.

Em 1840 achava-se a Costa Nova no seu auge, com muitos palheiros, alguns deles com mui sofríveis acomodações e até com tais ou quais hospedarias; concorriam a banhos muitas famílias e entre elas as principais das terras mais próximas e algumas da Beira: a pesca era abundante e os pescadores e contratadores auferiam dela razoáveis lucros.

Estranhar-se-á que os areais da Costa Nova tenham pertencido ao concelho de Ovar. Recentemente, criou-se a paróquia da Costa Nova do Prado, mas o foro civil continua a ser determinado pela Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação.

A Costa Nova do Prado tem sofrido os ataques do mar em Invernos dolorosos e mais agressivos, pedindo que se olhe por ela, pois ela é o garante e a protecção das gentes do lado de cá do canal da ria, propriamente a Gafanha da Encarnação e a Gafanha do Carmo. ....
Fonte: A Escola vizinha da minha..Gafanha da Encarnação

Nos Mares do Fim do Mundo


Quando li este livro..fiquei impressionada por duas razões...uma pela escrita tão real de estórias da Faina Maior que desde pequena ouço nesta minha terra de Ílhavo...depois por serem tão reais que até falavam de antepassados de amigos meus actuais..por isso e nos próximos tempos este será o ponto de encontro com...Bernardo Santareno e o seu livro de crónicas..Nos Mares do Fim do Mundo

...."António Martinho do Rosário, nascido em Santarém e médico de formação, era o nome verdadeiro de um dos maiores dramaturgos portugueses do séc. XX - Bernardo Santareno. Um dos seus primeiros livros, que publicou em 1959 e que impressiona pela sua narrativa…simples mas real…“Nos Mares do Fim do Mundo - Doze Meses com os Pescadores Bacalhoeiros Portugueses, por Bancos da Terra Nova e da Gronelândia”. Este quase livro de memórias surgiu porque devido à sua formação médica, a 1 de Abril de 1957, embarca para a pesca do bacalhau no N-M “David Melgueiro” e em 1958 faz uma segunda viagem a bordo do N-M “Senhora do Mar” prestando serviço no N-H “Gil Eanes”. É quase um diário de bordo relativo a dois anos em campanha no bacalhau, descrevendo situações e emoções, anotando histórias orais que normalmente se perdem nas ondas e na velhice dos homens….
Este será o primeiro de alguns dos contos desse livro que irei relembrar neste blogue…
Livro que impressiona quem o lê e muito mais gentes de Ílhavo como eu.
O referido excerto refere-se a um caso que se passou a bordo do lugre “Granja” e esta história, Santareno ouviu-a da boca dos homens a bordo do "David Melgueiro", conto esse já na altura passado há mais de quinze anos
"Foi no Granja, um velho lugre de três mastros, ao que me dizem já desaparecido. O Albino "algarvio" era o bobo do veleiro: não havia ninguém na companha, desde os moços de convés até aos oficiais da ponte, que não gostasse de "molhar a sopa".
Uns puxavam-lhe a camisola, outros tiravam-lhe o barrete e todos o feriam com graçolas pesadas, achincalhando-o com alcunhas e risos destemperados. O Albino ia sofrendo em silêncio e às vezes, que remédio!, chegava mesmo a emprestar aos lábios um sorriso dolorosamente pregueado. Mas no interior, lá por dentro, era uma chaga viva, um cancro que, sem tréguas, o vinha roendo: Malvados! Se lhes pudesse ser bom... Mas não podia. Enfim, uma desgraça: ele, ali no navio, era o fantoche, o bombo onde todos malhavam, o escarradoiro para onde, sem cerimónia, os outros cuspiam! Mas tantas lhe faziam que um dia... ora, ora, um dia... nada, sempre nada! Estava sozinho, não tinha ninguém por ele: como um bicho desprezível e feio... Feio! Todos lho chamavam. E cabeçudo, e torto, e marreco... Feio: de tudo, seria talvez o que mais o fazia sofrer!
Por duas vezes já, em acessos de raiva, calcara a pés juntos o espelhinho de algibeira. Ah, mas eles não sabiam ainda quem era o Albino! E daí talvez tivessem razão: em muitas horas, quase sempre!, sentia-se manso e receoso como um boi capado. Até que um dia, só até um dia!... Que se acautelassem, pois uma vez o palonça, o pobre diabo, podia perder a cabeça e... Um mar de gargalhadas apagava sempre as suas ameaças: Como os odiava, nestas alturas! E passava as noites a remoer planos de vingança, arrepios de terror e lágrimas de abandono. Então ele, Albino, não seria um homem como os outros?! Tinha que o provar, tinha que lhes mostrar do que era capaz. Era um homem, ele era um homem!
Mas os dois piores, os mais verdugos, seriam o cozinheiro Ricoca e o seu ajudante, o Mazorro: Ganhara-lhes medo, só de vê-los ficava com febre! Ainda ontem o Ricoca, à saída da cozinha, lhe passara uma rasteira de tal jeito, que ele fora estatelar-se no convés, no preciso momento em que uma grande onda galgava a amurada: Ficara todo encharcado, da cabeça aos pés. Em redor, os outros apertavam o ventre, de tanto rirem...
Ná, não podia continuar assim: perdera o gosto pela vida e sentia-se como um espantalho de eira, como uma vela esfarrapada ao vento. Os outros faziam-lhe tudo quanto queriam e ele nem reagia, sempre se ficava quedo e mudo: Verdade, verdadinha, ao cabo e ao resto, não passava dum reles cobarde. Só de pensar na mulher e no filho, sentia a cara arder de vergonha e o corpo alagado em suores frios: Rico chefe de família, não haja dúvida! Ah, mas aquele Ricoca!... A raiva que lhe tinha! E o outro, esse Mazorro do diabo, não era melhor... Pudesse ele! Tinha que poder: ou arranjava coragem para tirar vingança daqueles dois, ou deitava-se ao mar. E, noite após noite, foi acumulando projectos, imaginando torturas... Mas vinha a manhã e era como se o vento marítimo lhe apagasse o lume das veias: cada dia mais amarfanhado, mais triste. Uma miséria, uma vergonha! Aquilo tinha que acabar: ou ele, ou os outros dois! Daquela noite não passaria. Mas como? Sòzinho, apenas com as suas próprias forças, não podia: estava mais que visto.
E, contra o seu costume, naquela tarde, logo ao jantar, bebeu fartamente. E depois continuou... até sentir fósforos de lume acenderem-se-lhe na cabeça. Os da companha, admirados, riam e davam-lhe palmadas nas costas. Então, veio o Ricoca: "EH, ALBINO! EH, ALGARVIO!, ATÃO O QUE É ISSO, HOME? QUERES AFOGAR AS MÁGOAS?... CALEM-SE PRAÍ, RAPAZES: NA SABEM QUE ELE INDA NA RECEBEU CARTAS DA FAMÍLIA? SÃO COISAS QU´ACONTECEM A CALQUER MORTAL: SE CALHAR A MULHER..."
E os risos chocarreiros apertaram-no, como um círculo de chumbo a ferver. Um pouco cambaleante, o Albino conseguiu erguer-se à altura do cozinheiro: olhos nos olhos do inimigo, as mãos contraídas nos bolsos, os dentes arreganhados como os dum lobo, o "algarvio", por momentos e em silêncio, bafejou com o seu hálito azul espesso a cara surpreendida do Ricoca; depois, de súbito, soltou uma gargalhada impressionante, estridente e sacudida como um soluço e, sem palavra, afastou-se precipitadamente dali. Desta vez os pescadores não chicanaram: antes ficaram calados, inquietos, num vago pressentimento de perigo.
E realmente foi nessa mesma noite (quantos, passados já mais de quinze anos, ainda a recordam angustiados!) que o Albino, mais conhecido no mar pelo "algarvio", esfaqueou barbaramente, enquanto dormiam nos beliches, o cozinheiro Ricoca e o seu ajudante Mazorro: Cego de fúria, bêbado de vinho e de sangue, deu facadas à toa, no peito, no pescoço... por onde achou carne penetrável! Quando, enfim, conseguiram arrancar-lhe a lâmina das mãos, o Albino mostrava a face tinta de vermelho e, em uivos lamentosos, chorando e rindo convulsivamente, repetia baixinho: "Ai a minha mulher... ai, o mê filhinho... estão desgraçados, estão desgraçados!..."
E o "algarvio" foi logo amarrado ao mastro do meio, com guarda permanente. Toda a noite ondeou, em volta do assassino, uma vaga crepitante de archotes. O vigia recebera ordem para disparar contra quem quer que tocasse no preso: Só por isso, o Albino não foi estrangulado naquele anel de lume, movediço e feroz. Quando a madrugada veio, o Albino, esfarrapado, sujo de sangue, estava roxo de frio e de terror! A cada ameaça, a cada impropério, a cada escarro que lhe lançavam os da companha, o homem só gemia: "AI, O MÊ FILHINHO... AI, O MÊ FILHINHO!..." Mais não dizia. E, nem a neve que incessantemente caía, nem as ondas do mar que mais duma vez o cobriram, puderam limpá-lo daquele sangue.
Depois levaram-no para o "Gil Eannes". Aí, mais compreensivos, deixavam-no andar à solta pelo navio. Mas ele nunca mais quis falar. E mal comia. De noite, ouviam-no chorar. O comandante, condoído, tentava animá-lo: o Albino sorria tristemente, abanava a cabeça e, sem palavra, punha os olhos no chão. Assim sempre. Foi ainda com este mesmo sorriso triste, sem ódio nem fúria, que, naquela manhã de procela, o Albino galgou a amurada do Gil Eannes para se lançar ao mar revolto. Houve quem o tivesse visto, neste preciso momento: e todos afirmam que ele cumpriu o acto serenamente, sem a costumeira precipitação desesperada, sem a mínima atitude ritual, nada disso...simples , naturalmente, com o tal sorriso triste e infantil a chorar-lhe nos lábios. Lá ficou. Não foi possível salvá-lo….”

Fonte: Blogue ”Caxinas de Lugar a Freguesia”

in “Nos Mares do Fim do Mundo - Doze Meses com os Pescadores Bacalhoeiros Portugueses, por Bancos da Terra Nova e da Gronelândia”. - Bernardo Santareno 1959

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sandro G



Os Açores não são só as belas paisagens..não são só as viagens de veleiro..as idas ao Peter's beber uns gins...são também problemas sociais graves..que o digam os retornados americanos ....desenraizados..são também a fome e miséria dos meninos de Rabo de Peixe

Exposição de fotografia" Meu Nome Mar"


Ilhavo além de outras coisas muio boas (é por isso que cá vivo) tem um Museu Marítimo...espreplêndico...está a decorrer lá..desde Novembro..uma belissíma exposição de fotografia relacionada com...MAR..visitem...vale a pena..até dia 29 de Fevereiro

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Prova importante na "minha" ria



Remo: Selecção da Rússia triunfa na XXII edição da descida da Ria de Aveiro.

A selecção nacional da Rússia, que se encontra a estagiar em Portugal para preparar o apuramento para os Jogos Olímpicos de Pequim, venceu a XXII edição da Descida da Ria de Aveiro. Dominou a regata e não deu hipóteses aos seus adversários. Mesmo partindo numa manga mais fraca, impôs um elevado ritmo desde a largada e efectuou o melhor tempo 12,15 minutos, deixando o segundo lugar a mais de 16 segundos de diferença. Para o segundo e terceiro lugar, Caminhense e Náutico de Vigo vieram par a par desde o inicio da regata alternando consecutivamente a liderança da manga, acabando os espanhóis por serem mais fortes no final e ficarem com a medalha de prata. Nas restantes posições destaque para o Clube dos Galitos, que largando na quinta posição, efectuou uma regata de trás para a frente, ultrapassando os ingleses do Rowing London Club e o Real Clube Fluvial Portuense acabando em terceiro lugar da manga, quarto tempo da geral. Na prova feminina, a consagrada equipa do Real Clube Fluvial Portuense voltou a vencer e coloca-se em vantagem para no próximo ano arrecadar definitivamente o troféu cidade de Aveiro, uma vez que já conta com duas vitórias consecutivas.
Num dia de excelentes condições para a prática de remo olímpico, a edição deste ano contou com a maior internacionalização de sempre: uma equipa Nacional da Rússia, um Clube de Londres e duas equipas do Naútico de Vigo para além das principais equipas nacionais.

Em 21 de Janeiro de 2008-www.terranova.pt

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A minha outra Terra


Falei em posts anteriores no privilégio que é morar em Ilhavo...não posso no entanto e daí a razão de lhe dedicar as fotos de hoje à minha outra terra..a terra onde nasci..onde vivi a minha meninice...fica do outro lado do Rio Miño...pertence à região autónoma da Galiza------PONTEAREAS...além de outras coisas Ponteareas e muito visitada e conhecida em toda a Espanha pelas suas festas de Corpus Christi...onde em parceria com gentes das terras de Teide em Tenerife fazem as mais lindas ruas de flores naturais que conheço...tendo sido várias vezes os Ponteareanos convidados a ornamentar a Praça de S. Pedro em Roma..seguem-se as fotos...

domingo, 6 de janeiro de 2008

e mais....

e mais...

Costa Nova...mais fotos para fazer inveja


Digam lá se não é um privilégio morar aqui

Ilhavo..e arredores


Neste ponto de encontro também chegou a hora de falar da terra onde vivo..Ílhavo...concelho a que pertence a mais linda praia de portugal..Costa Nova......Ilhavo....fica pertinho do mar...rodeada de canais e marinhas...a Ela um ilustre desta terra de marinheiros dedicou este poema

Ílhavo, heróico poema,
Escrito em sangue no mar!
Tua canção é um tema
Que todos sabem cantar.
Terra de heróis marinheiros,
De heroísmo sem igual!
Sempre honrando em seus veleiros
O nome de Portugal.
Marinhas, Sol, tricaninhas
Azenhas sempre a chorar
Os sinos das capelinhas
Chamam o povo a rezar.
Ria sonhadora e esquiva
Que o mar não sabe entender
É ele quem lhe dá vida
No mar ela vai morrer.
Morre o Sol lá no poente
Num adeus emocionante
Diz adeus chorando à gente
Beijando o mar soluçante.
Ílhavo meu lindo amor
Noiva linda dos poentes
Brilhas e não tens fulgor
Não tens coração e sentes.
Moliceiros aprumados
Lembram gaivotas voando
São barcos estilizados
Ninfas esbeltas sonhando.
Céu azul noites serenas
Ao longe bramindo o mar
Canais planuras amenas
Velas ao longe a acenar.

Inês a galega

Nada como esta estória de amor..este ponto de encontro para edificar pontes entre dois povos..nunca notícia houve depois em que se falasse tanto de Portugal e da Galiza...

"...Muito foi cantada e tão bem melhor
A trágica história de Pedro e de Inês
Ousarei agora falar desse amor
Assim começando: “Era uma vez...”
Uma Inês galega, prima e muito bela
E dela canta o poeta um colo de garça
Da graça que um Pedro soube apurar nela
Feito amor tão grande, tão maior desgraça
Bela Inês, galega, de Castro e aventura
De Pedro, a Constança dado por dote real,
Foi paixão ardente, a mais crua e pura,
Que de tão constante foi aos dois fatal
Por real mercê, enleios de estado,
Cada beijo dado, suspiro ansioso,
O enlevo de amantes traz ao rei cuidado
Do amor cuidando por demais perigoso
E a Inês, irmã de Castros galegos,
Do infante Pedro enlevo do olhar,
Se fará mais bela nos desassossegos
Que os régios medos irão a matar
Se nos corpos jovens forte era o amor
E farto o afecto que aos dois consumia
Além da paixão, urgente candor
Três filhos a dádiva que esse amor unia
É Inês amante e mãe e rainha
Desse Pedro infante, a mais bem amada
Sob a sombra vil da traição mesquinha
Conspirando ânsias de a ver degolada
Pois Afonso é cego, rude, fero e bruto
Perde-se de pai e de avô, que é rei
Perde-se da vida nessa cor de luto
Que é razão de estado, não do amor a lei

Uma adaga fria rasga a carne viva
E a lâmina afoga a angústia na voz
Jaz Inês já morta e o seu sangue aviva
No chão empedrado pegadas do algoz

Aziago o dia, à vida adverso,
Vitória da bruta crueza do interesse
E Pedro pressente do amor o inverso
O ódio tremendo que o peito arrefece
Insana essa raiva, peito em chaga ao céu
Punhais de vingança, de orgulho ferido
Morta a sua amada, o pai lhe morreu
Que só por ser rei se terá valido
Na fúria que o ódio a razão destempera
Trementes as mãos, o olhar brilhante
Como um louco quase, quase besta fera
Persegue os algozes, da morte mandante
Outros corações D. Pedro cobiça
Pelo coração frio da Inês perdida
E cruento empunha o punhal da justiça
Cobrando pelo sangue o sangue da vida
E assim se conclui quase em louvaminha
De tão grande amor, tão breve o instante
Daquela que foi já morta rainha
E daquele que além da morte foi amante...."
Autor: Não sei...