domingo, 30 de dezembro de 2007

Canción para Rosalía Castro

Não posso despedir o Ano Velho sem colocar aqui "coisas" que foram importantes neste tempo...assim para partilhar contigo quem quer que sejas..um dos meus poemas de cabeceira...¡
"....Érguete, miña amiga,
que xa cantan os galos do día!
¡Érguete, miña amada,
porque o vento muxe, coma unha vaca!
Os arados van e vén
dende Santiago a Belén.
Dende Belén a Santiago
un anxo ven en un barco.
Un barco de prata fina
que trai a door de Galicia.
Galicia deitada e queda
transida de tristes herbas.
Herbas que cobren teu leito
e a negra fonte dos teus cabelos.
Cabelos que van ao mar
onde as nubens teñen seu nidio pombal.

¡Érguete, miña amiga,
que xa cantan os galos do día!
¡Érguete, miña amada,
porque o vento muxe, coma unha vaca!...
LORCA

sábado, 29 de dezembro de 2007

Poema da malta das naus


O Ano está a acabar..é sábado a nostalgia do mar bateu ..fui passear perto dele...veio-me de imediato à memória este poema que quero partilhar aqui

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do Sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo,
pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão esquerda benzi-me,
Com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
António Gedeão

sábado, 22 de dezembro de 2007

A Lenda do Barco Moliceiro da Ria de Aveiro

"...Há muitos, muitos anos - nem a velhinha que me contou, quando eu era menina, sabia quantos, - um pescador da Ria de Aveiro ouviu uma mulher a cantar e logo se apaixonou por ela só pela beleza da sua voz. Chamava-se Ramiro e era órfão de pai e mãe, tendo sido criado pela madrinha, uma solteirona bastante feia, baixa e gorda, de forte buço, que nunca encontrara quem gostasse dela para casar, embora tivesse um coração de pomba, terno e doce.
Ramiro vogava pelas águas espelhadas da Ria e foi guiando o barco para o sítio de onde vinha aquele doce cantar, deparando com uma jovem que se banhava, como se estivesse de pé, pois só se lhe via o corpo da cintura para cima, sem qualquer peça de roupa. Ela não fugiu nem parou de cantar, enquanto o pescador se aproximava. Ao vê-lo junto a si, sorriu-lhe e estendeu-lhe a mão, que Ramiro agarrou entre as suas, ao mesmo tempo que o coração acelerava os seus batimentos.
Era bela como uma princesa, com longa cabeleira de algas caindo-lhe pelas costas e torneando-lhe os peitos fartos e erectos. A sedosa pele era da alvura da areia da praia e os olhos tinham a cor verde do mar sem fundo. Os braços, compridos e esguios, terminavam em mãos de dedos finos, que iam movendo a água em seu redor, em gestos serenos e calmos, como se a afagasse.
Conversaram longamente e então ele disse-lhe:
- Amo-te e quero casar-me contigo!
A jovem sorriu e respondeu:
- Seria para mim uma grande felicidade casar-me contigo, pois nunca vi um homem mais belo e mais forte do que tu, mas, infelizmente, não pode ser. Eu não sou uma mulher, mas uma sereia.
Soltou a mão que o pescador tinha agarrada e deitando-se de costas na água, mostrou-lhe como a parte inferior do seu corpo tinha a forma de peixe, com cauda e escamas douradas, rebrilhando ao Sol.
- Sou a filha mais nova do Rei dos Mares e estou destinada a um Tritão, que me fará infeliz, porque não lhe tenho amor - continuou, começando a chorar e as lágrimas eram pérolas pequeninas, que ficavam a boiar, à sua volta.
- Não me importo que não sejas mulher - retorquiu ele. - Casa comigo e construirei para nós uma casa, metade em terra, para mim, e metade na Ria, para ti.
- Isso não pode ser! - insistiu ela. - O Tritão matava-me, porque é muito mau e feroz. Se eu pudesse transformar-me em mulher, então, sim, poderia casar contigo, mas nós sabemos que tal nunca será possível.
Estava muito triste agora a bela sereia. Atirou-lhe um beijo na ponta dos dedos, mergulhou e desapareceu.
Ramiro, antes de lançar a rede para pescar, ia todos os dias ao local onde tinha visto a sua amada, mas ela não tornou a aparecer. Assim, na sua faina diária, ora suspirava, ora cantava umas trovas tristes, que ele compunha na altura. Era o peixe que lhe dava o sustento para si e para a madrinha. Por vezes, ao cair do Sol, quando puxava a rede, julgava ver reflectida na água o rosto querido da bela sereia.
A madrinha, conhecedora daquele sofrimento e querendo-lhe como se seu filho fora, disse-lhe um dia:
- Devias ir à ti Bárb'ra, que é mulher de ciência. Talvez ela saiba uma maneira de transformar a tua sereia em mulher. Eu gostava muito de te ver feliz...
- Vou, sim, madrinha - respondeu o rapaz. - Por ela eu farei tudo!
- Então, tens de ir sozinho e de noite, que ela só tem poderes depois de se pôr o Sol.
Assim, ao morrer a tarde de um certo dia, ele meteu pés ao caminho, andando muito tempo sobre as dunas, até chegar a uma choupana sobranceira ao mar. O vento forte empurrava-o para trás e ele fazia um esforço redobrado para continuar a caminhar; terríveis relâmpagos cortavam o céu no escuro da noite, obrigando-o a fechar os olhos para não ficar cego; tenebrosos trovões faziam tremer a terra e a chuva era tanta, que lhe parecia que os próprios ossos estavam encharcados. Cheio de coragem, indiferente à adversidade da Natureza, bateu à porta da choupana, gritando:
- Ti Bárb'ra! Ó ti Bárb'ra!
Daí a pouco a porta abriu-se e Ramiro viu uma velha toda vestida de negro e com uma vela na mão, cuja chama tremulava com a ventania cá de fora.
- Entra, filho! - disse ela, com uma voz que lembrava uma gaita desafinada. - Eu sabia que vinhas.
Apesar de valente como poucos lá da terra, Ramiro hesitou por um instante, perante aquela figura sinistra, que mais parecia já não ser deste mundo, de faces cor de terra, um lenço preto à volta da cabeça, de onde caíam umas farripas de cabelo completamente branco, nariz afilado como uma faca, curvo como o bico do mocho, e uns olhos pequeninos, encovados, escondidos num montão de pregas da pela toda engelhada.
- Entra, filho! Não tenhas medo! - insistiu a velha.
Lá dentro havia uma fogueira e uma panela de barro sobre uma trempe, de onde saía um vapor que se desfazia no ar. As paredes de madeira davam a impressão de estar dançando com o reflexo das labaredas. Ao fim de algum tempo, começou a perceber que havia uma mesa no meio da choupana e que três gatos pretos dormiam ao pé do lume, aquecendo-se no braseiro.
- Ti Bárb'ra, eu venho cá por causa de - começou Ramiro.
- Não precisas de contar, meu filho, que eu sei tudo! Senta-te aqui à mesa!
Lá fora, o temporal continuava. A chuva e o vento faziam abanar a cabana, como se a quisessem derrubar. Sentaram-se à mesa, em bancos de madeira, um de cada lado, de modo que ficaram frente a frente. Ramiro viu então uma caveira sobre a mesa e teve um sobressalto.
- Não te assustes, meu filho! - tornou a velha. - É nisto que se transformam as belezas do mundo, os bons e os malvados, os ricos e os pobres. Eu sei que gostarias de ver a tua sereia transformada em mulher. Vou-te dizer o que tens de fazer. Não é difícil, mas desde já te aviso: o que vais fazer só pode ser feito uma vez; se correr bem, a tua amada sairá das profundezas das águas em forma de mulher e assim permanecerá para sempre; se correr mal, nunca mais a verás, nem mesmo sob a forma de sereia.
- Estou disposto a tentar seja o que for - assegurou Ramiro.
Então, a velha explicou tudo, tim-tim por tim-tim:
- Primeiro, vais construir uma casa de madeira, na duna, no sítio que chamam Costa Nova, pintando-a às riscas da cor que mais gostares, alternando com branco, por causa do mau-olhado; depois, vais pescar a Lua Cheia.
- Pescar a Lua Cheia? - perguntou ele, incrédulo.
- Foi isso mesmo que eu disse - continuou a velha. - Metes-te no barco numa noite de Lua Cheia, vais vogando até onde vires o astro reflectido na água. Aí, paras e lançando a rede, puxa-la devagar, de modo que traga a Lua inteira lá dentro. Então, só tens que ir até à casa nova e atirar a rede para o seu interior e logo verás a mulher que foi sereia a sair da água e a entrar em casa. Pode parecer que é tudo fácil, assim, mas o grande problema é que nem a Lua te pode ver nem pode haver o menor ruído até que chegues a casa com a Lua dentro da rede. Não te esqueças! Ao mais pequeno barulho, estará tudo perdido. Ah! ainda uma outra coisa: não podes contar isto a ninguém, nem mesmo à tua madrinha. Para te não esqueceres de nada, repete lá tudo até haveres decorado todos os passos a seguir!
Três meses levou a fazer a casa e a preparar o moliceiro, pondo na parte superior da proa um acrescento em forma de quarto crescente, o qual, cobrindo-o, não deixaria que a Lua o visse. Numa noite de Lua Cheia, meteu-se no barco, foi até onde se via a Lua toda reflectida na água, atirou com cuidado a rede em toda a sua volta e foi puxando, vendo com satisfação que a bola branca vinha dentro dela. Seguiu então na direcção da casa que fizera, aproou na areia e saltou para terra, sempre com a rede fechada na mão e a bola luminosa lá dentro aprisionada. Foi então que o silêncio foi quebrado, porque uma gaivota que dormia na praia ia sendo pisada por Ramiro e levantou voo a grasnar, cheia de medo. Quando o grito da ave atravessou o silêncio da noite, a bola branca desapareceu de dentro da rede e tudo ficou perdido.
O pescador tornou ao barco, navegou até umas covas que havia do outro lado da ria, saltou em terra, deitou-se no chão e chorou mil dias e mil noites sem parar.
As lágrimas foram tantas, que encheram as covas e o Sol, secando a água, deixou-as cheias de sal.
Tudo isto se passou há muitos, muitos anos, mas ainda hoje se podem ver as salinas, que são o sal das lágrimas que Ramiro chorou, tal como muitas casas que depois fizeram na Costa Nova e, porque gostaram da que ele tinha feito, lhe seguiram a traça. O moliceiro, esse, continua a apresentar aquela proa em forma de quarto crescente..."
Autor...Não sei...anda por aí

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Quociente Apaixonado...

....E porque tem tudo a ver comigo...

"...Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
* O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos entre si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfin resolveram se casar-se
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e
Diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
Uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
* Máximo Divisor Comum...
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era Luxuria passou a ser
Moralidade..."
Autor desconhecido..poema conhecido de sempre

Lorca e o seu encontro com a Morte

E porque ainda não tinha escrito nada na língua de castela..o meu encontro com LORCA

La Cogida y la Muerte
Un ataúd con ruedas es su cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombras de la tarde!"
Lorca

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Imagina...se fosse assim

...E porque neste ponto de encontro não existem...fronteiras....

Imagine


"...Imagine there's no heaven,
It's easy if you try,
No hell below us,
Above us only sky,
Imagine all the people
living for today...

Imagine there's no countries,
It isnt hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people
living life in peace...

Imagine no possessions,
I wonder if you can,
No need for greed or hunger,
A brotherhood of men,
imagine all the people
Sharing all the world...

You may say I'm a dreamer,
but Im not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one..."

Funeral Blues

E...porque é dos mais lindos poemas de amor..

"...Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bane,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Paul away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good..."


W.H. Auden

La Boheme

Adequado ao tema do blog agora iniciado

"....
Je vous parle d'un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue
La bohème, la bohème
Ça voulait dire on est heureux
La bohème, la bohème
Nous ne mangions qu'un jour sur deux

Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistro
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l'hiver

La bohème, la bohème
Ça voulait dire tu es jolie
La bohème, la bohème
Et nous avions tous du génie

Souvent il m'arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d'un sein
Du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin
Qu'on s'assayait enfin
Devant un café-crème
Epuisés mais ravis
Fallait-il que l'on s'aime
Et qu'on aime la vie

La bohème, la bohème
Ça voulait dire on a vingt ans
La bohème, la bohème
Et nous vivions de l'air du temps

Quand au hasard des jours
Je m'en vais faire un tour
A mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d'un escalier
Je cherche l'atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts
La bohème, la bohème
On était jeunes, on était fous
La bohème, la bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout
..."