domingo, 29 de junho de 2008

29 de Junho de 2008.......Campeã da Europa

Estou feliz...
Sou galega ...sou portuguesa..mas também sou espanhola...e não gosto de boches..e como portuguesa estou vingada e como espanhola...FELIZ

quinta-feira, 26 de junho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

Mia Couto - Remédios de Deus Pecados do Diabo-Meu Autor Fetiche

"...Remédios de Deus Pecados do Diabo é o seu 23.º romance, um livro sobre o tempo - o passar do tempo - e a capacidade de mentir, o jogo de mentiras, o encenar para poder existir. E é também sobre a morte e o amor numa terra imaginária, Vila Cacimba, lugar que “só existe por via da mentira”, onde quem chega também mente; metáfora de outra cacimba que ora revela ora adensa mistérios e mentiras e enigmas à volta de uma família. “Há mais coisas a descobrir numa família do que numa vista a Marte”, diz Mia Couto citando de cor o autor israelita Amos Oz. “Este livro fala sobre a quantidade de segredos que pode ser desvendada a partir desta incursão no universo familiar. Qualquer que seja a família, esconde sempre segredos”, afirma o escritor no seu falar devagar, pausado, quase sussurro como quando diz que só há pouco começou a sentir que o tempo passa. (…)”.e afirma ainda e brilhantemente:

Aos 10 anos todos nos dizem que somos espertos, mas que nos faltam ideias próprias.
Aos 20 dizem que somos muito espertos, mas que não venhamos com ideias.
Aos 30 pensamos que ninguém mais tem ideias.
Aos 40 achamos que as ideias dos outros são todas nossas.
Aos 50 pensamos que com suficiente sabedoria para já não ter ideias.
Aos 60 ainda temos ideias mas esquecemos do que estávamos a pensar.
Aos 70 só pensar já nos faz dormir.
Aos 80 só pensamos quando dormimos....."

sábado, 21 de junho de 2008

Arrais Ançã-Parte II


"...Quem frequenta a Costa Nova, ou quem por ela passa para apreciar uma das salas de visita do concelho de Ílhavo e da Região, talvez nem costume parar junto ao busto do arrais Gabriel Ançã, ali colocado em 1933. E seria bom princípio que todos nos habituássemos a descobrir as figuras gradas da nossas terras, para com as suas histórias aprendermos atitudes de dedicação e de abnegação para com gentes e comunidades. Cunha e Costa, em "Paisagens, perfis e polémicas", escreveu sobre o arrais Ançã, conforme pude ler na "Geografia de Portugal" de Amorim Girão, que ele "salvou para cima de cento e vinte vidas. Ainda novo, perdido estaria a tripulação da barca francesa Nathalie se não fora ele. A mulher do capitão, desvairada pelo terror, atirou-se do convés para o mar: recebeu-a o Ançan (sic) nos braços. Pesava menos que um lenço de assoar, mas como vinha tocada do alto, ainda me fez arrear um bocado os cotovelos". "... Ainda garoto foi dos que foram buscar a Senhora D. Maria II a Ovar. O Senhor D. Luís qui-lo para seu arrais. 'Ainda estou novo, meu Senhor, e aqui não há quem me substitua'. Como intermináveis formalidades burocráticas lhe entravassem, durante três anos, a pensão requerida, tirou-se dos seus cuidados e partiu para Lisboa com dez tostões no bolso... Chegado às Necessidades, respondeu ao familiar de serviço: 'Diga a sua Majestade que é o Ançan, e verá como ele me recebe logo'...E da visita ao Senhor D. Carlos, só lhe ficou o remorso de ter saído de proa, isto é, de costas para o Rei. 'Foi atrapalhação na manobra!'". "Chegou a ver todos os filhos, três, arrais como ele; e era lindo, comovedor e exemplar, ver sair, ao mesmo tempo para o mar, quatro companhas, de quatro Ançans. E se deixou a faina não foi porque já não pudesse fazer-lhe frente. 'Ainda me não assusto, mas já não salto para bordo nem acudo às aflições com a prontidão de outros tempos' e, 'tendo levado a vida a salvar gente, não quero arriscar-me a que me salvem a mim'". O arrais Ançã, que nasceu em Ílhavo, em 8 de Janeiro de 1845, e morreu em 1930, merece ser mais lembrado. E a propósito, João Sarabando, aveirógrafo inesquecível, escreveu em 1962 que "numerosos escritores, oradores e artistas - Luís de Magalhães, Cunha e Costa, Rocha Martins, António de Cértima, Jaime de Magalhães Lima, João Carlos Celestino Gomes, Maia Alcoforado, Abel Salazar e outros, outros muitos - fixaram o perfil do invencível e cândido arrais. Vários desses retratos são maravilhosos, mereciam ser enfeixados delicada, terna, amorosamente, num volume bioiconográfico. Publicá-lo, equivaleria a levantar outro monumento, formoso monumento, ao 'herói do mar' da terra ilhavense, das terras da velha ibéria que o Oceano enlaça. A ideia já surgiu, mas é ainda sonho. Oxalá se corporize". Não sabemos se isso aconteceu, mas ainda estamos a tempo de homenagear o 'herói' ilhavense...."

Texto da autoria do Professor Fernando Martins

O Busto do Arrais Gabriel Ançã na Costa Nova



"...Dizem os entendidos que os heróis não morrem. E o Arrais da terra dos Ílhavos além de herói era santo. Santo laico, já se vê. Destes santos extraordinários que, existindo aos milhares, não estão contudo, nos altares.
Fala-se, invariavelmente, na braveza do mar. Pois Gabriel Ançã era mais bravo do que o próprio Oceano. Mil vezes lutou com ele e mil vezes o venceu. Mais ainda: arrancou cento e três vidas preciosas aos seus tentáculos esverdeados e gigantescos, quando a morte já punha a mesa, com a toalha negra para o festim...
— Ah! mar! mar! Que tu, todo, não cabes dentro do meu cachimbo! — increpou certo dia o Arrais ao ver que as ondas, numa imprevista arremetida, tinham vindo molhar umas roupas que cuidara a recato na areia.
O arrais Gabriel Ançã (Busto de Abel Salazar)
Criado à beira das planícies marinhas — planícies que não raro se transfiguraram em alterosas e crespas montanhas — sabia nadar como um peixe. No seu tempo, fosse no Tejo ou na costa de Aveiro, ninguém lhe levava a palma a fender as vagas. Gabriel Ançã pode e deve ter sido, inclusivamente, como o primeiro grande campeão português da benemérita modalidade desportiva. Pelo menos, como campeão a título honorário...
Vizinho do mar, estudou-lhe as insídias, aprendeu a dominá-lo, a desferir-lhe golpes. A breve trecho, e sem cerimónia nenhuma, já o tratava por tu. Contava apenas dúzia e meia de primaveras quando, fazendo companhia ao patrão Joaquim Lopes, ajudou a salvar os náufragos de uma barca inglesa encalhada no Bugio.
Belo e forte, tostado e decidido, houve-se com tal coragem que logo ali o famoso patrão profetizou:
— Ó Ançã, tu botas homem!
E é que botou, botou um filantropo admirável, um servidor da Humanidade.
Em Abril de 1923, Gabriel Ançã, que conhecera D. Maria II e D. Pedro V, que falara com D. Luís, que teve a honra de ser recebido por D. Carlos, foi abraçado, efusivamente, em Lisboa, no decurso de uma luzida homenagem aos «lobos-do-mar», por António José de Almeida, então Presidente da República. O amplexo dos dois homens de bem, do timoneiro da nau do Estado e do arrais dos barcos de meia-lua, arrancou a mais quente e prolongada das ovações. É que, aos olhos do público, eternamente justo, Portugal acabara de saldar com amor o amor votado ao próximo pelo Ílhavo humilde e glorioso.
Na Costa Nova, ergue-se um monumento singelo ao Arrais Ançã. Nas laudas da História avulta, realmente, imperecivelmente, o nome de Gabriel Ançã. Nas laudas da História e no coração das gentes ribeirinhas — para quem o herói é um paradigma.
Que foi santo, quer dizer, que foi bondosíssimo? Mas ninguém o duvida. Basta que possuía — como disse Américo Teles —, notável museólogo ilhavense que toda a «vila-maruja» justamente venera — uma alma de criança. Ora a alma das crianças é sempre imareada, diamantina como estrelas...
De resto, José Simões Bixirião, num magnífico artigo publicado aquando da morte do Arrais, deu-nos a medida exacta dessa grandeza de alma:
«Havia uma coisa que muito o preocupava e fazia sofrer imenso. Era a triste sorte dos velhos pescadores que jaziam nos seus casebres sem terem pão para comer, porque já não tinham forças nos braços para remar, nem nas pernas para, ao menos, se mexerem a atar cordas no arrastar das redes. E, então, o nosso Arrais, confrangido por ver os seus irmãos do mar sem pão para comer, se tinha lugar, na remendagem das redes, para dois velhinhos, logo empregava nesse serviço seis ou oito. E depois, já /página 6/ menos amargurado e enquanto a sua companha descansava, ele ia às do Norte ou do Sul, e até às da Vagueira e S. Jacinto, e, dizia para os outros arrais:
— Na minha companha já tenho tantos velhos, mas na minha terra ainda há tantos sem pão. Preciso que mos «arrumem».
E, se conseguia o que desejava, que consistia em dar pão a todos ou quase todos os inválidos, a sua alegria era enorme e manifestava-a pagando o alborque...»
Há 117 anos que nasceu o Arrais, vai para 32 que fechou os olhos da cor do mar... Mas, «porque foi um santo sem saber que o era» — como escreveu Junqueiro do Ti Zé-Senhor —, porque foi um herói sem jactâncias — «salvar não é favor, é grande honra» —, maior altura atinge o seu atlético vulto, uma altura descomunal, maior do que a do farol de Aveiro — ou de Ílhavo — com os seus sessenta metros e pico.
Torga afirmou, num dos volumes, que o «litoral português devia formar uma província à parte, esguia, fresca e alegre, só de areia e espuma». Gabriel Ançã, filho do povo, desse povo sublime ainda que tanta e tanta vez incompreendido se não vilipendiado, é um símbolo perene de todo o nosso litoral, da tal província sonhada pelo Poeta.
Numerosos escritores, oradores e artistas — Luís de Magalhães, Cunha e Costa, Rocha Martins, António de Cértima, Jaime de Magalhães Lima, João Carlos Celestino Gomes, Maia Alcoforado, Abel Salazar e outros, outros muitos — fixaram o perfil do invencível e cândido Arrais. Vários desses retratos são maravilhosos, mereciam ser enfeixados delicada, terna, amoravelmente, num volume bio-iconográfico. Publicá-lo, equivaleria a levantar outro monumento, formoso monumento, ao «herói do mar» da terra ilhavense, das terras da velha Ibéria que o Oceano enlaça. A Ideia já surgiu, mas é ainda sonho. Oxalá se corporize.
O busto do Arrais, que ilumina estas esmaecidas, embora votivas regiões, é uma obra-prima de Abel Salazar, existente nessa vera galeria de preciosidades artísticas e etnográficas que enforma o Museu Municipal de Ílhavo. Museu sem preço da gesta popular, museu que urge defender.
No trabalho de Abel Salazar, o Arrais lendário revive gloriosamente. Aquilo não é argila — mas carne, osso e espírito. Irradiando força e bondade, decisão e serena valentia, o Gabriel Ançã do sábio professor constitui, ao fim e ao cabo, um retrato perfeito do nosso homem do mar.
Começámos por escrever com entranhada adoração do ílhavo imorredoiro e bom, e, inadvertidamente, viemos a falar, do mesmo modo, de um artista excelso e não menos bondoso. Mas, que os leitores nos perdoem o termos deixado correr a pena ao sabor do coração... "
JOÃO SARABANDO, in: “O Norte Desportivo” de 8 de Janeiro de 1962,

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Navio Gil Eannes-The Mother Ship of the White Fleet



Quis contar neste meu blogue um pouco da História deste navio fantástico, mas depois de ter feito um artigo para o colocar aqui encontrei um relato na primeira pessoa de quem como ninguém conheceu o Gil Eannes..assim é um privilégio partilhar com todos neste PONTO DE ENCONTRO o relato do Comandante Mário C. F. Esteves.

".....Ao ser-me solicitado, inesperadamente, que fizesse uma pequena resenha histórica do N/m “Gil Eannes” e explicasse sem grandes pormenores o que foi a actividade deste navio no período compreendido entre os anos de 1955 e 1971 durante o qual fui seu Comandante em doze anos consecutivos, confesso que fiquei perplexo pensando qual o facto, ou factos, que estivessem mais especialmente gravados na minha memória. A escolha não foi fácil mas, entre outros, há dois aspectos que me parecem dignos de uma primeiríssima abordagem. O primeiro é, sem dúvida, a magnífica assistência, multifacetada, que se exercia a favor de todos aqueles que tinham necessidade de recorrer aos serviços do navio apoio; o segundo, o carácter internacional e totalmente gratuito da assistência prestada a navios e tripulações de navios estrangeiros.
Efectivamente será muito difícil encontrarmos uma assistência onde o doente goze de uma situação tão vantajosa pois, além de receber os cuidados permanentes que a sua saúde necessitava, se se tratasse de um pescador de um navio de pesca à linha, ainda recebia como pagamento, durante todo o período da sua doença, a média da totalidade do bacalhau pescado pelos restantes pescadores do navio a que pertencia. Para os menos conhecedores do assunto esclareço que num navio de pesca à linha, contrariamente ao que se verificava nos navios de arrasto, todos os pescadores recebiam de acordo com as capturas que fizessem durante o período da pesca o que, consequentemente, se o problema não estivesse cuidado e humanamente tratado, significava que um pescador que tivesse a infelicidade de passar a maior parte do seu tempo internado no N/m “Gil Eannes”, chegaria a Portugal mais pobre do que quando tinha partido para a campanha e, nesse caso, com que proventos é que ele faria face às necessidades económicas da sua Família durante o Inverno?
O segundo destaque, que me parece justo realçar, é o facto de exactamente os mesmos cuidados humanitários, serem gratuitamente dispensados aos pescadores e demais tripulantes de qualquer navio, de qualquer das nacionalidades que pescavam nos mares da Terra Nova e Groenlândia fossem eles, espanhóis, franceses, italianos, alemães, russos, ingleses ou das Ilhas Faroé! É evidente, que a estes não era paga qualquer indemnização por pesca perdida.
Creio que, os dois destaques apontados foram, sem dúvida, os mais marcantes da história das actividades do N/m “Gil Eannes” não só no período sobre o qual me foi pedido este apontamento mas, durante toda a sua existência.
Com efeito, o N/m “Gil Eannes” que fora criado predominantemente como o navio apoio da frota bacalhoeira, com uma vertente muito forte virada para o campo da saúde, durante o período de defeso também foi muitas vezes utilizado na salvaguarda dos sagrados interesses da Nação, e não só, quer como transportador de bananas ajudando muito eficazmente a resolver os graves problemas dos bananeiros de Angola quer como navio transporte de peixe congelado capturado por pescadores portugueses nos mares da África do Sul. Nesta região também o N/m “Gil Eannes” desempenhou um magnífico papel de embaixador e representante da Nação Lusíada.
Após os apontamentos anteriores, façamos então uma breve introdução histórica do N/m “Gil Eannes” desde o seu aparecimento na Marinha Portuguesa. Este N/m “Gil Eannes” dos nossos dias, é o segundo da sua geração. Foi lançado ao mar, ou melhor, foi posto a flutuar no dia 19 de Março de 1955 nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo tendo sido ordenada a sua construção, pelo Grémio de Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau. Esta unidade veio substituir um antigo cargueiro a vapor, alemão, construído em 1914, que ficara retido num porto nacional logo no princípio da sua existência devido ao conflito mundial e que, dois anos mais tarde, devido à declaração de guerra da Alemanha a Portugal, foi apresado e sofreu substituição de bandeira. Esse navio, denominado ”Lahneck”, passou então a chamar-se “Gil Eannes” e ficou sob a jurisdição da Marinha de Guerra Portuguesa. Este primeiro navio a vapor Gil Eannes, fez a sua primeira assistência aos navios de pesca nos mares da Terra Nova no ano de 1927 totalmente equipado e tripulado pelos nossos distintos Oficiais e Marinheiros da Marinha de Guerra. Esta situação manteve-se até ao ano de 1942 em que transitou para a jurisdição da Marinha Mercante sendo o seu primeiro Comandante o Sr. Capitão Cândido da Silva devidamente acreditado para o efeito pela Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau.
Manteve-se este primeiro Gil Eannes ao serviço da frota de pesca, desempenhando as suas funções com inúmeras dificuldades devido às suas limitações e ao muito que lhe era solicitado, até ao ano de 1954, ano em que pela última vez prestou assistência aos navios de pesca. Era nessa altura seu comandante o Capitão João Pereira Ramalheira que, em 1945, tinha substituído o Comandante Cândido da Silva. A nova unidade, que entrou ao serviço em 1955, herdou do seu antecessor não só o espírito mas também o nome de Gil Eannes, o comandante e o sino de proa que suponho ainda lá existir.
Começou então, nessa longínqua primavera de 55, a vida do N/m “Gil Eannes” dos nossos dias, construído propositadamente para a assistência e apoio à frota da pesca do bacalhau e que, por assim ser, estava muito razoavelmente equipado para bem desempenhar as funções a que era destinado. Durante o período de 1955/1958 foi comandando pelo Sr. Capitão João Ramalheira (habitualmente conhecido por razões que desconheço por Comandante Vitorino Ramalheira) e, em 1959 assumiu o comando o Capitão Mário C. Fernandes Esteves que nessa função se manteve até ao ano de 1971 data em que, a seu pedido, foi substituído pelo Sr. Comandante António Papão Chinita.
Durante o período de 1959/1971, que vivi muito intensamente e do qual muito me orgulho, posso afirmar que o N/m “Gil Eannes” fez tudo o que era possível fazer-se em benefício da Economia Nacional, em benefício dos Armadores da Pesca do Bacalhau e, finalmente mas não menos importante, em benefício dos nossos navios da frota da pesca do bacalhau e, muito especialmente, das suas tripulações. Pode dizer-se que, nessa época, o N/m “Gil Eannes” era o suporte de toda a frota nos seus mais variados aspectos desempenhando simultaneamente funções de "Embaixador" representante dos portugueses e de Portugal em diversas regiões do globo e em locais tão distantes como o são a Groenlândia e a África do Sul por exemplo como anteriormente tive oportunidade de citar.
Em benefício directo da frota do bacalhau e dos seus navios e tripulações, o N/m “Gil Eannes” desempenhava funções de:
Navio Hospital
Navio Capitania
Navio Correio
Navio Abastecedor de Mantimentos
Navio Abastecedor de Redes e Diversos Materiais de Pesca
Navio Abastecedor de Combustível
Navio Abastecedor de Água
Navio Abastecedor de Isco para a Pesca
Navio Rebocador
Navio Quebra Gelos
Conforme disse ao princípio deste apontamento, a acção do N/m “Gil Eannes” também se fazia notar de uma maneira bem acentuada no campo das relações públicas e de, enaltecimento não só das obras, mas também do nome de Portugal. Dentro de muitas e variadas acções, algumas das quais já, naturalmente, se me varreram da memoria, ainda recordo muito vivamente as seguintes: recepção no porto de St. John's aos representantes de todas as Nações que faziam parte da Icnaf (International Comittee Northwest Atlantic Fisheries); recepção oferecida pelo Sr. Embaixador de Portugal em Ottawa, em St. John's, ao Ex.mo Governador e demais Autoridades da Terra Nova, na altura da oferta da estátua do navegador Gaspar Corte Real, pelo Governo Português, ao Governo da Terra Nova; recepção no N/m “Gil Eannes” a Sir Humphrey Gilbert em preito de gratidão e homenagem aos trabalhadores portugueses na Terra Nova, devido a um antigo Capitão pescador português, ter salvo um seu antepassado, em décimo grau em linha directa, que andava perdido sem água, nos mares da Terra Nova; visita do N/m “Gil Eannes” no fim da sua época de serviço na Groenlândia, ao porto de Gronnedal onde se encontrava instalada a base da Nato, no Noroeste do Atlântico e, onde eram considerados dias de especial convívio os dois dias de permanência do N/m “Gil Eannes” no porto; visita anual, por cortesia, do N/m “Gil Eannes” ao porto de Godthaab - capital da Groenlândia - a fim de homenagear e receber a bordo, não só as autoridades mais representativas da província, como as pessoas mais importantes da terra e, especialmente o corpo clínico do hospital local; facilidade do N/m “Gil Eannes” em pôr à disposição dos hospitais groenlandeses o corpo clínico do navio para ajudarem em algumas intervenções clínicas feitas em terra e a naturais da Groenlândia.
Foi ainda no N/m “Gil Eannes” que, por maiores ou menores espaços de tempo, embarcaram entre outros: o escritor Allain Villiers, que tornou o Lugre Argus mundialmente famoso, não só através do seu livro “The Quest of the Scooner Argus” como também através do seu artigo, publicado no National Geograhic Magazine “I Sailed With The Portuguese Brave Captains” o escritor alemão Max Stantze, que com uma equipa de filmagens e de som, realizou um documentário para o Departamento de Pescas do Governo Alemão; o artista fotográficoLeonard McComb, que ao serviço da revista Life, foi tirar fotografias da actividade dos portugueses nos bancos da Terra Nova, para ilustrarem uma edição especial totalmente dedicada ao Mar e seus Trabalhadores; os cineastas holandeses Aanton e Bert van Munster que, com uma equipa de cinco elementos, estiveram a bordo do N/m “Gil Eannes” para fazer um documentário encomendado pelo National Geographic Magazine sobre a pesca dos portugueses na Terra Nova, e, muito especialmente, os navios de linha; o jornalista e escritor americano John Pickwick que, também para o National Geographic Magazine, foi escrever um artigo sobre a pesca dos portugueses para lançamento do documentário feito pelos irmãos van Munster; os artistas fotográficos Dante Vacchi e Anne Gauzes que foram colher material para publicação de um livro fotográfico sobre a pesca do bacalhau dos portugueses e que, acabou por não ser editado em Portugal porque algumas das nossas Autoridades não concordaram com o título "Pão Amargo" que os autores pretendiam dar à sua obra.
Muito já disse, e muitíssimo mais poderia ainda dizer mas, creio, que já vai sendo tempo de terminar pois o relatado deverá ser mais do que suficiente para demonstrar o que pretendi dizer, ao afirmar que o N/m “Gil Eannes” honrava permanentemente o nome de Portugal e, muito especialmente, os seus Marinheiros.
A partir dos fins de 1963, por dificuldades económicas para a exploração do navio, foi permitido ao N/m “Gil Eannes” - por decreto publicado no Diário do Governo - fazer viagens de comércio como navio frigorifico e de passageiros, entre as campanhas de pesca. No decorrer dessas viagens para angariação de fundos para suporte da unidade o navio visitou, em anos consecutivos, vários portos tais como; Luanda e Lobito para transporte de passageiros nas ida para Sul e transporte de bananas na viagem para o Norte; Cape Town na África do Sul para transporte de peixe congelado pescado na região por arrastões portugueses; Aalesund, na Noruega, para transporte de isco congelado para a frota de pesca e bacalhau seco para o mercado nacional; Bridgetown, no Canadá, para carregar comida congelada para mink (animal também conhecido como vison) que foi descarregada no porto de Hals na Dinamarca; Prince Edward Island, no Canadá, onde carregamos batatas e legumes congelados, destinados ao porto de Grimsby na Grã-Bretanha; Alicante, na Espanha, para descarga de bacalhau em barricas, carregado na Terra Nova; Harbour Grace; Catalina; North Sydney, etc., etc., foram outros portos demandados pelo N/m “Gil Eannes” apenas em operações de comércio marítimo mas, apesar disso, em cada um deles, pelos convites que fazíamos e pelas recepções dadas a bordo, não só aos Agentes, mas também às autoridades e aos principais das diversas terras, deixávamos altamente colocado o nome de Portugal e bem explicada qual a nossa função principal no Mar. Das estadias em serviço no Lobito e em Cape Town tenho recordações muito especiais pela admiração que o navio causou e por todas as inúmeras provas de gentileza com que fomos distinguidos e que, oportunamente, transmiti a quem de direito.
Era tanto o prestígio que o N/m “Gil Eannes” gozava nos portos da Terra Nova e, em especial, no porto de St. John's que nos era atribuído um estatuto muito especial de que, mais nenhum navio gozava.
Assim, em emergência, ao serviço da frota era-nos permitido sair do porto de St. John's sem tratar de qualquer documentação para a saída e regresso ao cais de partida - que entretanto ficara reservado - sem qualquer documentação de entrada a não ser dois simples telefonemas para o Capitão do porto e para a Alfândega. Ainda nesse porto, apenas ao N/m “Gil Eannes” era permitido trocar material directamente com qualquer navio de pesca português sem a mínima interferência ou fiscalização das autoridades alfandegárias que, naturalmente, recebiam a nossa comunicação prévia do que pretendíamos fazer e quando.
Se estas atitudes, que sabia nunca terem sido concedidas a outro qualquer navio, não representavam prestígio e motivo de orgulho então não sei o que essas palavras significam.

Em linhas muito gerais creio ter deixado uma clara ideia de qual foi a actividade do navio apoio N/m “Gil Eannes” - ou como os canadianos chamavam "The Mother Ship of the White Fleet" - durante o período de 1959 a 1971 conforme me tinha sido solicitado. Em suma, por todas as acções realizadas, em prol de todos, este N/m “Gil Eannes” é único no Mundo!......"


segunda-feira, 16 de junho de 2008

O assalto ao navio Santa Maria filmado pelo Francisco Manso no navio hospital Gil Eanes

Pasodoble de Ponteareas no Palacio de Buckingham

Ponteareanos impantes de orgulho ao ver o seu Pasodoble ser tocado em Londres no render da Guarda Real.... e eu e eu.
Nunca Reveriano Soutullo imaginaria tal coisa.....


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Poesias de Fernando Pessoa...e afins...IV


Já não me importo

Até com o que amo ou creio amar.

Sou um navio que chegou a um porto

E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta

Do que quis ou achei.

Cheguei da festa

Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente

A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente

Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar

Que, sem o poder ver,

Sei que é sem ar

De olhar a valer.

E só me não cansa

O que a brisa me traz

De súbita mudança

No que nada me faz.

Fernando Pessoa

Poesias de Fernando Pessoa e afins...III


O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas -

Essas e o que faz falta nelas eternamente -;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo,Cansaço...

Álvaro de Campos

Poesias de Fernando Pessoa e afins...II


Quem me dera que eu fosse o pó da estrada

E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm

E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio

E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro

E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida

Olhando para trás de si e tendo pena...

Alberto Caeiro

Poesias de Fernando Pessoa e afins...



Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
Alberto Caeiro

Parabéns a você..........Fernando Pessoa


Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, e o seu valor é comparado ao de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando e estudando no idioma. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do fato de ser o maior autor da heteronímia.
Morreu de problemas hepáticos aos 47 anos na mesma cidade onde nascera, tendo sua última frase sido escrita na língua inglesa, com toda a simplicidade que a liberdade poética sempre lhe concedeu: "I know not what tomorrow will bring... " ("Eu não sei o que o amanhã trará").

Fonte:Wipipédia