segunda-feira, 28 de julho de 2008

Poema para Férias de Mar






Poema da malta das naus

Lancei ao mar um madeiro,

espetei-lhe um pau e um lençol.

Com palpite marinheiro

medi a altura do sol.



Deu-me o vento de feição,

levou-me ao cabo do mundo.

Pelote de vagabundo,

rebotalho de gibão.



Dormi no dorso das vagas,

pasmei na orla das praias,

arreneguei, roguei pragas,

mordi peloiros e zagaias.



Chamusquei o pêlo hirsuto,

tive o corpo em chagas vivas,

estalaram-me as gengivas,

apodreci de escorbuto.



Com a mão direita benzi-me,

com a direita esganei.

Mil vezes no chão, bati-me,

outras mil me levantei.



Meu riso de dentes podres

ecoou nas sete partidas.

Fundei cidades e vidas,

rompi as arcas e os odres.



Tremi no escuro da selva,

alambique de suores.

Estendi na areia e na relva

mulheres de todas as cores.



Moldei as chaves do mundo

a que outros chamaram seu,

mas quem mergulhou no fundo

Do sonho, esse, fui eu.



O meu sabor é diferente.

Provo-me e saibo-me a sal.

Não se nasce impunemente

nas praias de Portugal


António Gedeão

3 comentários:

almagrande disse...

Bem escolhido Marieke, boas férias.

Marieke disse...

Boas Férias para ti também..carrega as baterias nessas lindas paragens da nossa Ria

Fernando Martins disse...

A poesia, quando boa, é sempre um estímulo para chegar mais longe e mais alto. Que ela nos acompanhe a todos durante as férias, longe ou perto dos nossos cantinhos habituais!

Um abraço

Fernando Martins