Alguns meses atrás recebi um convite do meu amigo Cmdt João Beiga, "temos de ir á Galiza em Maio, vamos lá mamar uns mexilhones e umas canhas à conta daqueles gajos, e até fazem uma regata em nossa honra", eu disse logo, "se é para mamar à conta dos nuestros hermanos, conta comigo, a regata logo se vê".É claro que eu nunca iria perder um evento das "Organizações Beiga, SA ", é um desenrolar de emoções fortes, overdoses de adrenalina, a própria ABJSE-Associação de Bundjee Jumping Sem Elástico, tem-se vindo a queixar de que os eventos desta entidade fornecem aos participantes adrenalina em doses superiores ao permitido por Lei.
Aveiro 30 de Abril de 2008 19h 03m horas, chega o Cmdt Beiga com 3 minutos de atraso, com o carro cheio de Mouros, toca a entrar para a camineta, temos de ir para Espanha.-Entrem que eu não vou, depois vou lá ter, não se preocupem.(como se nós estivessemos preocupados com ele)"Ó Beiga, se eu e o Julio vamos dormir ao barco precisamos da chave"-Pois, esqueci-me, mas fizeste bem em lembrar, vão andando que eu ainda chego lá primeiro que vocês e levo a chave.
Porra do Caraminhal 01 de Maio de 2008O dia acorda bonito, vou beber um café ao clube náutico, foda-se 90 centimos e não valia um coiso das Caldas.Chega o nosso Cmdt Beiga, colega de curso do não menos famoso Basco Moscoso de Aragão (Capitão de Longo Curso), acompanhado da sua esposa."Ó Beiga, os documentos do barco?"-Épá, os mouros são uns chatos, lembra-me que tenho que tos dár.E lá fomos nós, mamar uns bocadillos, unas canhas, uns copitos de viño rojo, de seguida embarcámos numa camioneta e fomos passear por aquela terra que um dia foi nossa, no fundo fomos matar saudades.Acabámos o dia a mamar perdidamente (como no poema da Floribela Espanca), é claro que foi á conta dos nuestros hermanos.
02 de Maio de 2008 - Da Porra do Caraminhal até Bigo O Cmdt Beiga não veio no navio, o Cmdt Moscoso que estava de reserva tambem não apareceu, logo eu e o Julio tivemos de nos fazer ao mar por nossa conta e risco. Não fossem os golfinhos que apareceram ao fim da tarde e a viagem teria sido uma monotonia pegada.Mas à chegada lá estava o nosso Cmdt Beiga, ele e uma feijoada de samos, para o almoço do dia seguinte, e mais uma vez lá fomos mamar à conta dos outros, mejillones al vapor, bocadillos, tortillas de patata, canhas, claritas e pulpo.Como não havia café a nossa "Amiga Atlantica", (link para o seu blog ) ( http://unamiradaalariadevigo.blogspot.com/) ofereceu-se e insistiu para nos levar a um café ao centro de Bigo, largou-nos mais ou menos á porta de um café semi-aberto ou fechado, e disse em galego uma coisa que eu não percebi, mas o Cmdt Toni Pardal Sepikingue, imediatamente traduziu assustado: "ela vai-se embora, vai buscar o Pipo ao clube e diz que para voltarmos á marina é pelo caminho que viemos, só que a pé, se nos perdermos, basta seguirmos o musica na Marina e vamos lá ter". "Vai-se embora uma mierda, para já é longe pa carialho, depois se os gajos desligam a musica tamos fornicados, que se lixe o café, vamos é outra vez com ela".Lá a convenci a esperar 5 minutos e nós bebemos um café, 1 Euro, foda-se mais uma vez e não valia outro caralho, se estivesse aqui uma tia minha, a gorda atrás do balcão levava com o café no focinho até tirar uma bica.
03 de Maio de 2008 De Bigo até á Póvoa de Varzim (Portugal)O Cmdt Beiga reassume o comando do navio NBB Béronique, desta vez sim, a viagem prometia, mais não fosse pela famosa feijoada.E lá iamos nós rumo ao mar, quando os nuestros hermanos se lembram de fechar a torneira do vento, o Cmdt Pardal Sepikingue, farto destas merdas, avisa logo pelo rádio, que vai fazer uma corrida a motor, O Cmdt Licas não o deixa fugir e vai logo atrás dele.No NBB Béronique vamos a votos, as opções são de ir a motor ou esperar por vento, resultados: um voto a motor e duas abstenções, foi o unico caso em que as abstenções ganharam a um voto a favor e ficámos na mesma.
Ena pá, ukéke vem lá?
1200 - Vamos almoçar , temos uma feijoada de samos.Mas, como não há bela sem senão o Beiga dá o alarme:"Ópá, não há gás"(já eu estava a notar que faltava qualquer coisa nesta viagem, a navegar á práticamente 2 horas e ainda não tinha acontecido nada, era no minimo estranho).Julio - "Ó Beiga vê lá se é a torneira de segurança que tá fechada"Je - "Ó Julio, qual torneira, ele tá a abanar as duas bilhas, deve tar a querer aproveitar o gás que tá coalhado, em ultimo caso mete-se a feijoada ao sol, pode ser que aqueça".Afinal parece que há gás, mas soa novamento o alarme "não há fósforos",por sorte o Julio tinha um isqueiro e lá se aqueceu a feijoada e 2 dedos do Beiga a tentar acender o fogão.
1230 - Soa novamente o alarme mas desta vez via VHF, "o pessoal tá a levar porrada no Sileiro", nós estavamos nas Cies sem vento, mas no momento em que o Julio mete o ultimo feijão á goela, começamos a levar com tudo em cima, deu para tudo, viragens de bordo, cambadelas, trambolhões dentro da cabine, etc.
Islas Cies
E prafazeando o nosso colega Cmdt Pardal Sepikingue, começámos a levar com 30 nozes de vento, todas de uma vez no focinho e foi mesmo muita fruto seco, "baixa pano á proa, mete motor e vamos mas é para a nossa terra, querias vento, agora toma lá".E lá foi o NBB Béronique, no meio da borrasca aos pulos que nem um macaco, fico eu e o Julio no poço, o nosso Cmdt Beiga confia em nós e vai dormir, e eu comento com o Julio, "como é que aquele gajo consegue ir dormir com esta merda aos pulos, mas pronto ele lá sabe".O que vale é que este pessoal lá dos lados de ABeiro, habituados a estas andanças pelo grande Mar Oceano do Norte (ainda os hei-de ver no Mar da Palha), ia-se mantendo informado: Não se recolhe a Baiona, andar 5 para trás ou 10 prá frente, segue-se prá frente, em La guardia tá melhor, seguimos até Viana, em Viana tá bom, vamos prá Póvoa.E efectivamente pra lá da fronteira as condições eram outras, mais prós lados de Montedor encontrámos condições para jantar, metemos o "preto" (cor do piloto automático) ao leme e recolhemos á cabine.Jantamos o resto da famosa feijoada (parabens á cozinheira Marieke) e entretanto anoitecia e passávamos a barreira psicológica das 10 milhas, comunico a nossa posição ao Cmdt Pardal Sepikingue (deve ser o nome completo dele, cada vez que vinha ao rádio dizia: "olá Mouro, aqui Pardal Sepikingue"), e digo "espera por mim que tens de me levar para Abeiro".Mas passados uns minutos, a 7,5 milhas da Póvoa, o Cmdt Beiga dá novamente o alarme "temos de ir á vela", eu nem digo porquê, quem quizer que adivinhe.Comunicamos ao Pardal que vamos velejar um bocadinho, a noite tá boa e vamos aproveitar a estadia aqui no meio do mar.Passadas 2 horas, já era estadia a mais e vela a menos, pelo que pedimos ao Cmdt Berna do "Tibariaf II", que viesse ter connosco para falarmos um bocadinho e já agora trazer uns litritos de gasoleo, não fosse o nosso acabar por acaso, o Berna gostou da ideia e 30 minutos depois tava á nossa beira e seguimos viagem juntos.Entretanto o Cmdt Pardal Sepikingue dava uns conselhos por rádio "se por acaso vos faltar o gasóleo, metam do Alvarinho no depósito, se o motor for como o dono, queima tudo". Entrámos na barra da Póvoa por volta das 2 da matina com o Chico Albino e a Isabel á nossa espreita assim como um respeitoso comité de boas vindas.Mais uma vez o NBB Béronique foi a embarcação mais famosa em prova, vá-se lá saber porquê.
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