sábado, 3 de maio de 2008

O rosto de Maio de 68........40 anos depois


"....Em Maio de 1968 a revolução encabeçada por homens precisava de um rostro feminino, nenhum outro ficou na memória como o de Caroline de Bendern. Ela foi capa de revista em todo o mundo, e ainda hoje é o mais belo poster da revolta parisiense.
Curiosamente, Caroline não passava de uma figurante. Não era francesa, nem estudante, nem trabalhadora, nem especialmente politizada. E (não se choquem) fez pose. Em Maio de 1968, Caroline tinha 27 anos. Inglesa, era neta do Conde de Bendern, e uma neta problemática. Andou por várias escolas internas inglesas, de onde foi sendo expulsa, depois mandaram-na para Viena, onde se meteu na boémia, e acabaram por lhe cortar a mesada. Então foi para Paris e Nova Iorque, e trabalhou como modelo. Caroline era uma rapariga do seu tempo, e dizia aquelas coisas vagas contra "a sociedade" e a favor da "mudança". À Normandie Magazine confessou em 1997: "Estava-me nas tintas para a política francesa, porque estava preocupada com a humanidade inteira." Nada mais inócuo do que estar preocupado com toda a humanidade.
Como é que esta jovem mulher se torna a Joana d"Arc do Maio vermelho? Ela ia no meio da multidão que marchava em direcção à Bastilha (os símbolos, os símbolos) e já lhe doíam os pés (é o que ela conta). Então alguém lhe pede que salte para os ombros de um rapaz e segure uma bandeira. A boleia era bem vinda. A questão da bandeira parecia mais complicada: "Não queria nem a bandeira vermelha - por causa dos comunistas que sabotavam o movimento - nem a bandeira negra, porque não sabia nada dos anarquistas. Mas a bandeira vietnamita convinha-me como símbolo de uma guerra que toda a juventude denunciava. De repente, sinto várias objectivas fixadas em mim." Nada a que uma modelo não esteja habituada: "Então tive como que um reflexo profissional. Instintivamente, endireitei-me, o meu rosto torna-se mais grave, os meus gestos mais solenes. Quis a todo o custo ser bela e dar uma representação daquele movimento à altura do momento.
Ela admite: "No fundo, fiz pose. E fui armadilhada por essa pose. Porque de repente emocionei-me: esta multidão que se junta, justa, ardente, luminosa, com todas aquelas bandeiras, e este símbolo tão pesado na minha mão. Torno-me exactamente o que tento parecer. Já não represento nenhum papel, estou mergulhada no movimento e no instante, e consciente, eu que sou uma aristocrata inglesa, de uma responsabilidade." O avô conde, como é próprio dos avós condes, não se comoveu nada com as multidões ardentes: rasgou o testamento e disse à neta que não lhe aparecesse mais à frente. Caroline trocou a aristocracia do título pela aristocracia da celebridade, e convenhamos que há "armadilhas" mais graves. Hoje, diz que nunca se arrependeu do Maio. Quando muito, digo eu, está arrependida de não ter pedido royalties......"
[Público, 3 de Maio de 2005]

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu em 68 era pequeno e não me apercebi da importancia desse movimento mas também acho que hoje aqui em Portugal está-se a dar importância a mais a esse assunto,principalmente se olharmos para os benefícios que por ventura a nós Portugueses isso provocou!

Marieke disse...

benefícios...não esqueças a crise académica de 69...foi um rescaldo...eu acredito..que tão só cconsequencias académicas..de resto...
Mas escrevi este artigo..pela piada do que é uma coincidência ..e como o futura se pode aproveiar...hoje a linda cachpoa tá velha e chateada pois por uma irrever~encia de juventude perdeu o dinheiro e o título...ehehhehehehheh...

O´Fartura disse...

Ola Mar:
Ola Marieke:
Estamos argallando a realización dunha entrevista á Poeta María Lado para publicar nos nosos blogues.
O cuestionario ímolo facer colectivamente despois de leermos e escoitarmos o seu último traballo BERLIN.
http://www.aregueifa.net/marialado.htm
A entrevista concédenola a autora e en principio imos a participar:
Manuel de Homes de Pedra en Barcos de Pau.
Besbe de Beliscos Pequenos
e eu.
Eu creo que un bo número de blogues participantes pode ser 6 facendo 2 preguntas cada un.
Como non teño os vosos e-mails a forma que teño para contactar con vós é a través deste comentario.
Veña, animádevos¡¡¡
Por favor contestádeme a:
monchobouzas(arroba)gmail(punto)com

Agardo a vosa responsta.

Un saúdo mariñeiro.