quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Museu Marítimo de Ilhavo- Album do Mar-Pintura de Costa Pinheiro










“Um navio ancorado num porto sem abrigo”, assim se definiu Costa Pinheiro, um dos pintores mais salientes da arte portuguesa contemporânea. Nascido em Moura, na raia alentejana, em 1932, Costa Pinheiro realizou um percurso invulgar, como artista e cidadão. Lisboa e Munique foram os seus lugares de abrigo. O ambiente artístico da capital da Baviera, onde diversas vanguardas artísticas do século XX fervilharam, marcou a sua obra de pintor que sempre se ensaiou no desenho e na gravura. À semelhança de outros artistas portugueses que, durante a ditadura, alcançaram o direito de ser presos por razões políticas, Costa Pinheiro conheceu no exílio o reconhecimento e a afirmação internacionais da sua obra. Buscando a abstracção, as suas principais obras supõem um apurado conceptualismo, apoiado num grafismo exuberante. A figuração conceptual de personagens históricas ligadas ao destino português trouxe o mar para um plano de destaque na sua obra. As celebradas séries “Reis de Portugal” (1964-1966) e “O Poeta Fernando Pessoa” (1974-1981) evocam o imaginário histórico nacional, um trajecto construído sobre a dialéctica do real acontecido e do real imaginado – entre a história e o mito. Combinando essas referências matriciais, mais recentemente Costa Pinheiro elaborou o seu “Álbum do Mar”, a série de aguarelas que agora expomos, por sua generosidade e com o apoio do Museu da Cidade da Câmara Municipal de Lisboa da Galeria Fernando Santos, do Porto. Ao expor esta belíssima narrativa do imaginário marítimo português, o Museu Marítimo de Ílhavo convida o seu público a questionar os sentidos da identidade portuguesa, debate que a arte e a poesia nunca tornaram menor. Talvez concluamos, com o artista, que somos “um navio ancorado num porto sem abrigo”.
Fonte: MMI