Patente Museu Marítimo de Ilhavo de 20 de Março a 9 de Maio de 2010
"....Dizem que os fotógrafos não são pessoas como as outras. Consta que caminham com metade dos olhos entre as mãos e não fazem separação entre o seu corpo e o Mundo, como as crianças e os animais. Neste último aspecto, compartem a condição com todos os artistas dignos desse nome, e ainda bem que assim acontece. Alguém há-de ter a seu cargo a tarefa de manter activa a relação entre os homens e o íntimo coração das coisas. Foi pensando na possibilidade dessa inocência, que me encontrei pela primeira vez com Eduardo Gageiro.
Eram três horas da tarde, sobre uma mesa de vidro ele abria as folhas de um livro chamado Silêncios e insistia na diferença entre o plural e o singular da mesma palavra. Mas não precisava de falar muito mais. A sua eloquência não estava na explicação do sentido dos termos, residia na forma como virava as páginas – Aqui encontrava-me eu em Varanasi, aqui em Genéve, aqui o homem estava de costas, e ainda que monstruoso, eu vi-o no meio da solidão, e assim por diante. Embora o que dissesse fosse mais fundo do que dizia, ou estivesse muito mais escondido. (…) Para além da mesa de vidro, para além do sol da Primavera entrando às golfadas pela janela, o que o fotógrafo vinha dizer provinha do fundo da Natureza. Como se dissesse – Tenham cuidado comigo, olhem que eu nasci para as árvores, nasci para os seus ramos, suas folhas levantadas contra a luz, suas raízes escondidas no solo. Muito cuidado, que eu não sou daqui....."
Lídia Jorge
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1 comentário:
Esta fotgrafia é verdadeiramente o momento, o instante!
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