domingo, 12 de junho de 2011
Fora de Bordo - olhares sobre o Mar Português-Até 2 de Outubro de 2011
Fotografias de Angus McBean Burt Glinn Bill Perlmutter Edouard Boubat Federico Patellani Gérard Castello-Lopes Guy Le Querrec Jean Gaumy Leon Levinstein Louis Stettner Peter Fink Sabine Weiss Weber Wolfgang Sievers
Aquilo que hábito ou por limitação do olhar tendemos a classificar como “marítimo”, consiste afinal numa confinada maneira de ver e de representar, como se a praia já fosse mar e nela habitasse toda a vida marítima.
“Fora de bordo” sintetiza metaforicamente esse modo de ver e sentir o mar, a tendência para o olharmos de fora, da terra para o oceano, sem o enlace romântico que a litoralização das sociedades remeteu para a espuma da memória e para visões exóticas de comunidades humanas que, em rigor, não conhecemos.
Uma pesquisa sobre as diversas representações de imagem que artistas, repórteres e cientistas sociais estrangeiros construíram sobre as comunidades marítimas portuguesas na segunda metade do século XX acabará por evidenciar uma menor dissidência no olhar do que podíamos supor. Se nos limitarmos ao modo como a fotografia feita por estrangeiros registou e representou as comunidades de pescadores portuguesas nesse quarto de século que decorreu entre o termo da II Guerra Mundial e a transição para a Democracia em 1974-76, encontramos belíssimas fotografias, a exemplo das que aqui se mostram, identificamos artistas importantes, alguns deles da Agência Magnum, depreendemos que o “mar português” interessou territórios artísticos que não se inscreviam no reduto oficial do regime salazarista, cuja propaganda, antecipada e oficiosamente, se incumbiu de fotografar e filmar as “gentes do mar nacionais”.
Observando estas vinte e quatro fotografias de treze artistas diferentes, muitos também fotojornalistas, apetece perguntar por que se fizeram às praias de Portugal a fim de as representar povoadas de barcos e pescadores?
Espécie de lugar de síntese do “mar português”, a Nazaré foi o laboratório favorito dos fotógrafos que vieram e voltaram, transmitindo a outros, com certeza, que certas imagens só ali se podiam ainda fazer. Nos anos cinquenta e sessenta, as enseadas e praias de pescadores portuguesas eram lugares de vida e de morte, de conflito e sobrevivência, espaços de fronteira habitados por tipos humanos que a modernização das pescarias já fizera desaparecer noutras paragens do “mundo desenvolvido”. Daí, talvez, a representação visual de sentido exótico que releva de várias fotografias, o privilégio de imagem atribuído às mulheres, aos velhos e crianças que em diversas se nota e, noutras ainda, a construção de imagens de tipo naturalista que nos mostram o mar como cenário e as suas gentes como personagens típicas de um certo imaginário etnográfico.
Exibir estas fotografias no MMI significa suscitar estas e outras questões que se prendem com o jogo social das identidades, ou seja, com o modo plural e inconstante como nos vemos na relação com o outro. Uma cultura marítima aberta e socialmente responsável implica esta arqueologia do olhar.
MMI-A.G.
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