domingo, 6 de janeiro de 2008

Inês a galega

Nada como esta estória de amor..este ponto de encontro para edificar pontes entre dois povos..nunca notícia houve depois em que se falasse tanto de Portugal e da Galiza...

"...Muito foi cantada e tão bem melhor
A trágica história de Pedro e de Inês
Ousarei agora falar desse amor
Assim começando: “Era uma vez...”
Uma Inês galega, prima e muito bela
E dela canta o poeta um colo de garça
Da graça que um Pedro soube apurar nela
Feito amor tão grande, tão maior desgraça
Bela Inês, galega, de Castro e aventura
De Pedro, a Constança dado por dote real,
Foi paixão ardente, a mais crua e pura,
Que de tão constante foi aos dois fatal
Por real mercê, enleios de estado,
Cada beijo dado, suspiro ansioso,
O enlevo de amantes traz ao rei cuidado
Do amor cuidando por demais perigoso
E a Inês, irmã de Castros galegos,
Do infante Pedro enlevo do olhar,
Se fará mais bela nos desassossegos
Que os régios medos irão a matar
Se nos corpos jovens forte era o amor
E farto o afecto que aos dois consumia
Além da paixão, urgente candor
Três filhos a dádiva que esse amor unia
É Inês amante e mãe e rainha
Desse Pedro infante, a mais bem amada
Sob a sombra vil da traição mesquinha
Conspirando ânsias de a ver degolada
Pois Afonso é cego, rude, fero e bruto
Perde-se de pai e de avô, que é rei
Perde-se da vida nessa cor de luto
Que é razão de estado, não do amor a lei

Uma adaga fria rasga a carne viva
E a lâmina afoga a angústia na voz
Jaz Inês já morta e o seu sangue aviva
No chão empedrado pegadas do algoz

Aziago o dia, à vida adverso,
Vitória da bruta crueza do interesse
E Pedro pressente do amor o inverso
O ódio tremendo que o peito arrefece
Insana essa raiva, peito em chaga ao céu
Punhais de vingança, de orgulho ferido
Morta a sua amada, o pai lhe morreu
Que só por ser rei se terá valido
Na fúria que o ódio a razão destempera
Trementes as mãos, o olhar brilhante
Como um louco quase, quase besta fera
Persegue os algozes, da morte mandante
Outros corações D. Pedro cobiça
Pelo coração frio da Inês perdida
E cruento empunha o punhal da justiça
Cobrando pelo sangue o sangue da vida
E assim se conclui quase em louvaminha
De tão grande amor, tão breve o instante
Daquela que foi já morta rainha
E daquele que além da morte foi amante...."
Autor: Não sei...

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